Autor

Cristiana Vale Pires

Bares, discotecas, clubes, salas de música ao vivo, associações culturais, festas, festivais, espaço público permitem-nos dançar, socializar, ouvir novas sonoridades, entre outros estímulos que apoiam a nossa procura por sensações de prazer e de bem-estar. No entanto,

as lentes do proibicionismo e da moralidade tradicional tendem a conceptualizar o lazer noturno unicamente como um “contexto de risco” para o consumo de drogas, sexo não-protegido, delinquência e violência interpessoal.

O foco exclusivo no “risco” traduz uma visão simplista, parcial e iminentemente conservadora, que pode culminar na implementação de medidas restritivas, unicamente focadas na segurança, no controlo e na irradicação de determinados comportamentos. Em ambientes que afirmam “tolerância zero” em relação a determinadas drogas, as pessoas tendem a consumir doses maiores ou pior calculadas, de forma mais rápida e com menos condições, aumentando o risco de sobredose e de crises físicas, ou psicológicas, associadas ao consumo e ao ambiente repressivo. Por esse motivo, num cenário em que uma grande parte das drogas que as pessoas preferem consumir quando saem à noite permanecem ilegalizadas, a redução de riscos afirma-se como o modelo mais adequado para a promoção do bem-estar individual e coletivo.

Adotar a lente da redução de riscos não significa promover o consumo de drogas. Pelo contrário, parte do reconhecimento de que, independentemente de todos os esforços do proibicionismo, muitas pessoas vão continuar a consumir drogas.

Nesse sentido, implementa medidas e ações pragmáticas humanistas que, abstendo-se de moralismos, pretendem atenuar os riscos e responder, de forma mais adequada, às situações de crise que possam ocorrer. É, portanto, uma abordagem de cuidado que resulta na maximização das condições de segurança do estabelecimento/evento e que promove o bem-estar das pessoas que o frequentam. Muitos estabelecimentos e eventos, tanto em Portugal como a nível internacional, já têm vindo a criar protocolos e processos internos de capacitação para reduzir os riscos e aumentar a sua responsividade a situações de crise relacionas com o consumo de drogas, mas também com comportamentos sexistas e racistas.

A Kosmicare é uma organização especializada em redução de riscos e no design de modelos safer spaces, que presta serviços de capacitação e de apoio a estabelecimentos de lazer noturno e a festivais de verão. Para mais informação, escrevam para: contact@kosmicare.org 

Cristiana Vale Pires (ela/dela) é feminista intersecional, anti-proibicionista e aliada de outros movimentos de justiça social. Tem formação em psicologia e antropologia, e é membro-fundador da Kosmicare onde colabora como psicóloga e gestora de projetos.

English Version

Bars, discos, clubs, live music venues, cultural associations, parties, festivals, public space allow us to dance, socialize, listen to new sounds and all the other stimuli that aid our search for sensations of pleasure and well-being. However, the lenses of prohibitionism and traditional morality tend to conceptualize nightlife solely as a “risk environment” for drug use, unprotected sex, delinquency and interpersonal violence. The exclusive focus on “risk” reflects a simplistic, biased and imminently conservative view that can lead to the implementation of restrictive measures, solely focused on security, control and eradicating certain forms of behaviour. In environments that claim to impose “zero tolerance” for certain drugs, people tend to take stronger or less well-controlled doses, they are more hurried and less cautious, increasing the risk of overdose and physical or psychological crises associated with substance abuse, but also with the repressive environment. For this reason, in a context where the majority of the drugs that people prefer to consume when they go out remain illegal, harm reduction emerges as the most appropriate model for the promotion of individual and collective well-being. Adopting the approach of harm reduction is not tantamount to promoting drug use. On the contrary, it results from acknowledging that, regardless of all prohibitionist efforts, many people will continue to use drugs. In this sense, it implies the implementation of measures and pragmatic actions by humanists who, shedding a moralist approach, seek to mitigate risks and provide a more adequate response to emergency situations that may occur. It is therefore a care-giving approach that sets out to maximize the security conditions of venues/events and promote the well-being of people who attend them. Many venues and events, both in Portugal and internationally, have already implemented protocols and internal training procedures to reduce risks and increase their responsiveness to emergency situations connected with drug use, but also with sexist and racist behaviour.

Kosmicare is an organization that specializes in risk reduction and designing safer spaces models, providing training and support services to nightlife venues and summer festivals. For more information, write to: contact@kosmicare.org 

Cristiana Vale Pires (her/her) is an intersectional feminist, anti-prohibitionist and ally of queer, anti-racist and housing rights movements. She graduated in Psychology, and has an MA and PhD in Anthropology. She is a founding member at Kosmicare, where she collaborates as a psychologist and project manager.

/ Translation by Diogo Freitas Costa

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