[ENG] Ricardo Ramos Gonçalves (Castelo Branco, 1995). Journalist and editor. He holds a degree in Communication Sciences from Universidade Nova de Lisboa and a master's degree in Modern and Contemporary History from ISCTE. He began his professional career in 2015 as a journalist, worked for the cultural communication platform Gerador, was an editor in the culture section of Novo Semanário and currently writes for Time Out and Observador. He has moderated conferences on culture and artistic creation in Portugal. He is the editor of PARTE Book, an editorial project developed as part of PARTE Portugal Art Encounters.
Espanha, 2023. Através das redes sociais, diversos meios de comunicação social espanhóis davam conta de um movimento que florescia para protestar contra as várias censuras artísticas propostas pelo partido ultraconservador Vox. Personalidades como o realizador Pedro Almodóvar e a atriz Alba Flores, ou instituições como a Sociedad General de Autores y Editores, juntavam-se ao protesto recorrendo ao hashtag #StopCensura, rapidamente difundido em mais de vinte mil posts de Instagram. “Os profissionais da cultura querem denunciar o regresso da censura que ataca a liberdade de expressão, um direito social e democraticamente consolidado na nossa Constituição. Exigimos a proteção dos nossos direitos fundamentais porque, sem cultura, não há democracia”, dizia o comunicado publicado pela recém-criada Plataforma de Artes Libres.
Em causa está aquilo a que os agentes culturais chamaram de “veto ideológico” e a defesa por um estado de direito, livre de quaisquer tipos de censuras ou cancelamento de obras artísticas. Em resposta, Ignacio Díaz, porta-voz do Vox, referia-se a uma das peças de teatro visadas na polémica como tendo recebido cerca de 20 queixas por parte da população que estava contra a participação de crianças na mesma, apelidando-a de mau gosto. O debate estava instalado, bem como um possível confronto de opinião, entre o sector cultural e as franjas mais conservadoras da sociedade espanhola, instigadas pelo Vox. Este não seria, no entanto, o princípio de uma discussão que se revela, a cada dia que passa, mais relevante: o que está o sector a fazer, ou não, pela saúde democrática das sociedades?
Comecemos pelo atual contexto e o percurso que nos conduz até aqui. Não é um fenómeno recente, nem único. Já acontecera no passado, e surge na atualidade, como resposta reacionária a diversas mudanças globais, desde a crise de refugiados aos impactos negativos do chamado projeto neoliberal. Por último, e seguramente não menos decisivo, como forma de refutar valores transnacionais baseados em direitos humanos, que não olham a diferentes credos e nacionalidades. Ao longo dos últimos anos, através das urnas, e pelo meio de uma crise económica generalizada em diversos centros de poder e sucessivas quedas de governos, assiste-se – em especial na Europa – à retomada de poder por parte de partidos ultraconservadores, nomeadamente de extrema-direita. Dessa mesma evidência, surgem, no entanto, questões sobre a manutenção de valores democráticos custaram a alcançar.
Num dos debates promovidos na edição de 2023 do MIL chegava-se por fim à questão: qual a responsabilidade do sector cultural na ascensão dos movimentos de extrema-direita? A pergunta não tem uma resposta afirmada, até porque o debate em torno da ascensão da extrema-direita e o seu impacto nas várias áreas da sociedade só agora tem ganho forma em muitos países europeus – muitos deles, diga-se, já com governos próximos ou constituídos por membros de partidos radicais de direita. Explica o jornalista Ricardo Cabral Fernandes que estes movimentos de forma populista “surgem como a última aposta do neoliberalismo decadente”. Os pânicos morais contemporâneos, o revisionismo histórico, bem como um ressentimento geral canalizado para os partidos de esquerda, são algumas das razões que explicam o recrudescimento de certos movimentos que, no caso português, pareciam adormecidos ou distantes das efetivas esferas de poder. “Foram, durante anos, movimentos marginais, de pequenos grupos, mas que começaram a adquirir mais estrutura na década de 90”, explica o jornalista.
Tendo em conta o atual contexto, a pergunta proposta pelo debate do MIL devolve, por um lado, a importância à cultura e às artes como lugares historicamente ligados à contestação e resistência, propondo, por outro, perceber de que forma é que este sector pode responder à ascensão da extrema-direita, que não é um eco do passado, mas uma ameaça no presente ao futuro. Antevendo uma reflexão mais aprofundada que terá, por certo, mais desenvolvimentos ao longo dos próximos anos, lançou-se o repto a algumas personalidades ligadas, direta ou indiretamente, ao sector da cultura, para que refletissem sobre de que forma é que o sector se pode constituir como um lugar de resistência ao populismo de extrema-direita.
Estes foram os testemunhos recolhidos. Heterogéneos nas suas conclusões, afiguram-se, no entanto, como um princípio de caminho para a problematização desta temática que está, afinal de contas, na ordem do dia.
Todos nós temos uma quota de responsabilidade quando as dinâmicas no trânsito dos saberes ou o diálogo entre as várias frentes da sociedade parecem entrar em crise ou manterem-se numa suspensão. Significa que existe um sopro de vitalidade em falta e onde sobram as portas, faltam as pontes. O sector cultural é frágil em todos os países e particularmente precário num país como Portugal, que nunca privilegiou seriamente a transformação das estruturas sociais por via do conhecimento e da excelência criativa. Faltam pontes entre os artistas portugueses (que são muitos e constituem um tecido vibrante!) e a sociedade, que vive na maioria em condições de grande sacrifício ou uma desorientação relativamente ao destino comum na sua redução à vida imediata. A revolta das populações sempre foi usada e acicatada pelos poderes menos generosos e avessos à construção democrática. Devemos todos – artistas, intelectuais, professores – contribuir ativamente para desmontar os mecanismos do medo, do estigma e da violência social. Mostrar que esse risco político é antigo e recorrente; e que dispomos, em contrapartida, de muitas possibilidades para caminharmos juntos e nos descobrirmos na troca de formas e de ideias, de maneira a construirmos sensivelmente um imaginário plural e mobilizador à medida do tempo.
Penso que o sector cultural se constitui como um lugar de resistência ao populismo de extrema-direita e deve continuar a sê-lo ativamente em relação a todas as doutrinas ideológicas que simplificam a face do mundo até ao horror da ignorância fabricada. As artes são uma oficina da inteligência e da poesia, em constante reformulação, na relação com a evolução histórica e tecnológica. Mas sobretudo são – como a universidade -, um lugar de experiência íntima e societal onde se desata a descoberta do próprio, a vocação do cidadão, a maturidade intelectual e sensorial do indivíduo capaz de recusar a demagogia, a idolatria e toda a sorte de violências. Novas formas de resistência estética e resiliência política surgem diante dos nossos olhos, geralmente nas margens da cena artística, pela mão de novas gerações e da cultura online, sintonizada com os movimentos culturais à escala global. Tecem malhas muito fortes de solidariedade e organizam-se em novas economias, sem deixarem de participar no grande palco das artes, quando chamadas, e nos rituais do sistema democrático, que deve ser garantido num processo incessante de atualização.
Costuma associar-se a ascensão da extrema-direita e a ideia de que o populismo fala para as pessoas, porque há essa sensação de desamparo e de abandono em relação ao estado social e perda de alguns privilégios. E isto também acontece no sector da cultura. Temos um mercado pequeno e precário. Os apoios são irrisórios dentro do que é o orçamento de Estado e, portanto, por um lado quando se fala de elite cultural faz sentido, por haver essa zona de influência, mas também é irónico porque quem conhece e vive dentro deste sector sabe que grande parte das instituições sobrevive com dificuldade e a maior parte dos artistas são tão abandonados pelo estado social como os trabalhadores de outros sectores.
Para haver alternativa na cultura que responda às pessoas tem de haver um certo distanciamento e consciência da realidade. Além disso, a subsidiarização também não contribui para a independência dos artistas. A extrema-direita alimenta e cria a ideia de que os artistas quando se posicionam, estão a fazer propaganda e isso é aquilo que muitas vezes afasta o sector cultural das pessoas porque se associa ao sector uma certa sobranceria. É a machadada final numa relação que se podia construir pelo diálogo. Há que desconstruir essa distância, sobretudo porque as pessoas do setor cultural estão muitas vezes nas mesmas circunstâncias sociais que as pessoas que acabam por votar na extrema-direita. Existe a crença de que o sector cultural abandonou as pessoas e é preciso reverter isso. Tem de haver incentivos à participação e apelar às emoções, porque a cultura tem a capacidade de nos colocar no lugar do outro, e diria que essa é a estratégia que pode servir para nos aproximar das pessoas.
Percebermos que somos um país que teve 48 anos de fascismo e cinco séculos de colonialismo, que até há 49 não reconhecia o direito de cidadania aos povos civilizados, explica o patamar onde estamos ainda. A cultura é um espaço de disputa de poder, tal como a memória, de forma permanente. A narrativa da Revolução de Abril é do caos, não é do progresso nem da participação popular, como se existisse democracia apesar da revolução. Pelo contrário: existe democracia porque houve revolução.
Neste contexto, diria que deve combater-se as causas dessa ascensão e não os próprios movimentos ou partidos. Não sei se cabe ao sector cultural, que é muito diverso, combater diretamente a ascensão da extrema-direita, mas devem combater-se as causas, tal como se deve combater a falta de empatia, o racismo, a pobreza, o machismo, o patriarcado e os privilégios de classe no acesso às artes. O contributo deste sector é muito mais de trabalhar as causas dessa ascensão e há muito por fazer neste contexto.
Temos instituições a vetar obras artísticas porque elas questionam o passado colonial e procuram reinterpretar as narrativas que são aceites. Por outro lado, temos instituições a inaugurarem no espaço público brasões coloniais e a reinscreverem a história portuguesa. Isto acontece porque não tivemos um pensamento crítico sobre a nossa história e porque foi considerada natural a ideia hegemónica do luso-tropicalismo e dos mitos da identidade nacional. Nunca foi posto em causa e começa a surgir uma contranarrativa pelo movimento social antirracista e de ativistas negros. [Estes movimentos] aparecem para reivindicar o espaço público e para nos questionar.
Não podemos aceitar que as obras artísticas sejam destituídas do contexto político e histórico em que foram produzidas e sejam avaliadas unicamente pelo valor estético. Atualmente, há projetos emancipatórios de contranarrativa que trazem manifestações culturais e de pessoas negras na cultura. Não nos podemos esquecer que o espaço público, em Portugal, está tomado pelo discurso imperialista e isto tem de ser desmontado, porque é o fermento para a apologia do ódio e para a violência.
Não vejo qualquer responsabilidade do sector da cultura na ascensão da extrema-direita, em Portugal, e no mundo. Na verdade, sempre existiram em Portugal pessoas com pensamento próximo da extrema-direita, afinal de contas, Portugal teve a mais longa ditadura fascista da Europa e, durante muito tempo, quisemos acreditar que o 25 de Abril tinha terminado esses movimentos. Mas nunca desapareceram, simplesmente não havia uma estrutura sólida como a que existe agora. Durante décadas, as pessoas da extrema-direita estavam de alguma maneira disfarçadas no PSD e no CDS – PP, mas agora, com o aparecimento do Chega e o crescimento da extrema-direita no mundo, essas mesmas pessoas mostram sem receios os seus ideais.
A cultura e a arte sempre foram um inimigo bem claro destes movimentos, porque representam o pensamento crítico, a reflexão, a discussão, o debate, conceitos e meios opostos àquilo que é o populismo, como as fake news, o escárnio e maldizer, alicerçado em preconceito, racismo, xenofobia, desigualdade social, etc. Neste sentido, o sector cultural será sempre um lugar de resistência a este movimento, porque é um motor de pensamento crítico das sociedades atuais, refletindo sobre o passado, a nossa memória, mas também em relação aos problemas da contemporaneidade e as possibilidades do nosso próximo futuro.
A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie alertou-nos para os perigos dos estereótipos, não por serem inteiramente falsos, mas porque são incompletos. Reduzem uma única história a ser a única história, silenciando todas as outras vozes e experiências que um lugar pode conter. Ao longo dos anos, fomos desenhando cidades onde existem comunidades invisíveis, mas que vivem geograficamente bem no centro. Desses lugares, escutam-se histórias dessas visões estereotipadas, histórias de distanciamento, de segregação, de negação do seu direito a usufruir da cidade e dos seus serviços, histórias de racismo, de violência e de paragens de autocarro em sítios estranhos e distantes.
A cultura pode ser um exemplo sublime que permite transcender fronteiras e desafiar estereótipos, oferecendo uma nova perspetiva sobre as margens, possibilitando um direito fundamental: o direito ao imaginário. Num mundo onde estas distâncias parecem estar a crescer, é também através da cultura que podemos escolher construir pontes em vez de muros, que podemos celebrar a diferença em vez de temê-la, que podemos dar voz às margens para que possam ocupar o centro, que podemos ir descobrir outros centros e que tudo isso junto torna-nos incomensuravelmente mais ricos. Este imaginário insubmisso é um convite para que todos nós possamos sonhar juntos com um futuro mais participado, cumprindo a promessa de que a cultura pode ser uma força transformadora, um agente de mudança que inspira e capacita. É uma celebração do pluralismo de vozes e perspetivas que enriquecem o nosso mundo.
Acho que a ascensão dos movimentos de extrema-direita é uma resposta aos medos das pessoas, aos seus vazios existenciais e à crença de que podem existir soluções fáceis e rápidas para aquilo que as preocupa.
Em relação a isto, a cultura não pode muito, porque estas pessoas, as que creem em soluções fáceis, não leem muito mais do que parangonas, frases descontextualizadas e informações que reforcem as suas crenças. A história mostra-nos que, nestes casos, o poder da cultura é muito limitado. Mas estes momentos de crise também provocam a reinvenção de novas formas e movimentos culturais, esses sim de contestação e resistência.
O sector cultural tem um papel fundamental na construção de identidades coletivas. Quando falamos da ascensão dos movimentos de extrema-direita devemos ter consciência de que as artes podem ser ferramentas potentes na difusão de ideologias. E de que existe um perigo evidente na propagação de narrativas que enfatizam alguns dos valores defendidos pela extrema-direita.
Considero que o poder do sector artístico (de formar ou deformar mentalidades) deve ser sempre exercido com responsabilidade social e política.
A extrema-direita tem ganho impulso e ascensão nos últimos anos como reação às conquistas sociais que avançaram no início deste século. É resposta a um sistema que foi construído segundo uma lógica colonial, porque o colonialismo é a base do capitalismo. Surge como resposta às vozes que têm trazido, e bem, para cima da mesa um debate sobre o passado histórico do país, e nesse aspeto a cultura deve ter o papel que sempre teve historicamente contra regimes e ideologias autoritárias.
Grande parte da história da arte é de contestação e o seu papel deve ser esse, mas as instituições que têm algum tipo de influência no que circula também são responsáveis porque são coniventes, uma vez que a extrema-direita acaba por ser útil na manutenção do status quo e da lógica capitalista. Acredito, ainda assim, que a cultura pode potenciar um diálogo importante sobre a democracia, mas não deve ficar refém ou com medo do que estes movimentos querem tentar parar.
English Version
Spain, 2023. During the summer, the social media were filled with reports from several Spanish media outlets about the growth of a protest movement against several acts of art censorship proposed by the ultraconservative party, Vox. Figures such as film director Pedro Almodovar, actress Alba Flores, or institutions like Sociedad General de Autores y Editores, joined the protest, using the hashtag #StopCensura, which quickly spread through more than twenty thousand Instagram posts.: “Cultural professionals wish to denounce the return of censorship threatening freedom of expression, a social and democratically consolidated right granted by the constitution. We demand protection of our fundamental rights, since without culture, there is no democracy,” read the statement published in the recently-created Plataforma de Artes Libres.
The issue in question revolved around what the cultural agents called an “ideological veto” in defence of the rule of law, free from any form of censorship or cancelling of artworks. In response, Vox’s Ignacio Díaz referred to one of the theatre plays targeted by the controversy, as having caused around 20 complaints from people who were against the participation of children in it, describing it as a work in poor taste. The discussion had set in, and so had a potential conflict of opinion between the cultural sector and the more conservative sectors of Spanish society, instigated by Vox. It would not, however, become the starting point for a debate which has become more relevant with each passing day: what is the cultural sector doing, or not doing, to strengthen the health of democracy in our societies?
Let us begin with the current context and the path that led us here. The phenomenon isn’t recent, neither is it a unique case. It had already happened in the past and today it resurfaces as a reactionary response to the different global shifts, from the refugee crisis, to the negative impacts of the so-called neoliberal project, and lastly, but surely not least, as a way to refute transnational values based on human rights, regardless of credos and nationalities. Over the last years, in the polls and amidst a generalised economic crisis in different centres of power and the collapse of successive governments, we are witnessing – especially in Europe – the return to power of ultraconservative parties, namely of the radical-right type. The fact, however, raises different questions regarding the preservation of hard-won democratic values.
One of the discussion groups organised by the 2023 MIL convention finally tackled the real question: what is the responsibility of the cultural sector in the rise of far-right movements? The question remains as yet unsettled, especially since the debate on the rise of the far-right and its impact on the different spheres of society has just only begun to take shape in many European countries – many of which, in must be noted, are already being governed by close allies or even members of radical-right parties. The journalist Ricardo Cabral Fernandes claims that these kind of movements with a populist vein “emerge as the ultimate effort of a decadent neoliberalism”. The contemporary moral panics, the historical revisionism, as well as the generalised resentment being channelled towards leftist parties, are some of the reasons that explain the resurgence of certain movements which, in the Portuguese case, has seemed dormant or distant from the spheres of power. “For many years they had remained small, marginal groups, but in the 1990s they began to gain structure,” explains the journalist.
Given the current context, the question put by MIL’s discussion group is meant, on the one hand, to re-establish the importance of culture and art as historical spaces of contestation and resistance, and on the other hand to understand how this sector can respond to the rise of the far-right, not as an echo from the past, but as a present and future threat. Anticipating a deeper reflection that will surely have further developments in the years to come, other personalities were also challenged to produce their reflections on how the cultural sector can constitute itself as a site of resistance to populism and the far-right.
The following is a collection of these contributions. Albeit heterogeneous in their conclusions, they constitute a starting point for a discussion around a theme which is undeniably on the agenda.
We all have a share of responsibility when the dynamics in the circulation of knowledge or the dialogue between the various social fronts seem to reach a crisis or become suspended. It means that we are lacking some vitality, with too many doors and too few bridges. The cultural sector is fragile in all countries, but is particularly precarious in a place like Portugal, where the transformation of social structures through knowledge and creative excellence has never been a serious priority.
Portuguese artists (who are many in number and form a rich fabric!) lack the bridges to connect them with a society that endures difficult living conditions and whose sense of a common purpose is overwhelmed by immediate concerns. Popular revolt has always been explored and instigated by the less generous and democratically committed powers. We must all – artists, intellectuals, teachers – actively contribute to dismantle the mechanisms of fear, stigma and social violence. Show that this political threat is an old and recurring phenomenon; and on the other hand, that there are many paths we can tread together, to discover ourselves through an exchange of ideas and experiences, to provide a sensitive, plural and mobilising vision in harmony with the times.
I believe the cultural sector to be a site of resistance to far-right populism and must actively continue to fight all ideological doctrines that reduce the image of the world into the horrific guise of a construed ignorance. The arts are the workshop of intelligence and poetry, constantly shifting in their relation to historical and technological evolution. But above all they are – like academia -, a site of personal and social experience, a place to resolve the discovery of the self, of the citizen, of individual intellectual and sensory maturity, capable of refusing demagogy, idolatry and all kinds of violence. New forms of aesthetic resistance and political resilience appear before our eyes, usually on the margins of the art scene, by the hand of new generations and online culture, attuned to cultural movements on a global scale. They weave tightly-knit networks of solidarity and organise themselves in new economies, while never refusing to participate in the great stage of the arts whenever called upon, as well as in the rituals of a democratic system whose survival relies on an incessant process of renewal.
The rise of the far-right is often associated with the idea that populism resounds with people, due to a sense of helplessness and abandonment among populations regarding the welfare-state and the loss of some privileges. And this is also true for the cultural sector. We have a small and fragile market. The share of the state budget allocated to support culture is derisory and therefore, while the idea of a cultural elite is apposite, since that sphere of influence does exist, it is also ironic because those who are familiar and live within this sector know that many of its institutions find it hard to survive and that most artists are as forsaken by the welfare state as workers in many other sectors.
In order to find an alternative solution that can respond to the needs of professionals in the cultural sector, there has to be a certain detachment and realism. Moreover, a system entirely dependent on state support does not contribute to artistic independence. The far-right both nurtures and feeds off the idea that artists who position themselves politically are agents of propaganda, often driving a wedge between the cultural sector and society at large, leading people to associate culture with a certain pretentiousness. This strikes a final blow to a relationship that could be built through dialogue. This distance must be deconstructed, especially since people in the cultural sector are often in the same social circumstances as people who become potential far-right voters. There is a built-in belief that the cultural sector has turned away from the general public and this must be reversed. We must encourage participation and appeal to emotions, because culture has a unique ability to make people relate to each other, and I would say that it’s a strategy which can bring us closer to people.
In order to understand the current juncture, we have to realise that our country went through 48 years of fascism and five centuries of colonialism; that no more than 49 years ago, colonised peoples were still not granted citizenship rights. Culture is the arena of a permanent power struggle, much like memory. The narrative construed around the April Revolution is one of chaos, not of progress or popular participation, as if democracy had survived despite the revolution. On the contrary, democracy exists because there was a revolution.
Regarding the topic at hand, I would say that we should fight the causes behind that upsurge rather than the movements or parties themselves. I don’t know whether that is the responsibility of the cultural sector, which is very diverse, to engage in a direct fight against the rise of the far-right, but its causes should be fought, just as it should fight the lack of empathy, racism, poverty, machismo, patriarchy, and class privileges in the access to the arts.
At the same time that we see institutions vetoing certain artworks because they question our colonial past and seek to reinterpret accepted narratives, we see other institutions presiding the inauguration ceremonies of colonial coats of arms in the public space and reinscribing them into Portuguese history. This is possible because we have lacked a critical reflection upon our history and because the hegemonic concept of lusotropicalism and the myths of our national identity remain ingrained. They were never questioned and now face the emergence of counter-narrative spearheaded by an antiracist social movement and black activists [these antiracist movements] have emerged to reclaim a right to the public space and to question these established narratives.
We cannot accept that artworks be stripped of the political and historical contexts in which they were made and be appraised solely on their aesthetic merits. Currently, there are counter-narrative movements of empowerment that give expression to black people in our cultural sector. We must not forget that public space in Portugal is dominated by an imperialist narrative that must be dismantled, as a catalyst of hate and violence.
I don’t hold the cultural sector responsible for the rise of the far-right in Portugal and elsewhere. In fact, in Portugal there have always been people who profess far-right ideologies. After all, Portugal had the longest lasting fascist dictatorship in Europe, although for a long time we wanted to believe that the Carnation Revolution had put an end to those movements. But they never disappeared, they simply lacked the solid structure which they now have. For decades, far-right supporters were somehow disguised within centre-right parties such as PSD and CDS-PP, but with the advent of Chega, and the growth of far-right parties across the world, those same people are no longer afraid to reveal their ideals.
Culture and art have always been clearly against these movements, representing critical thought, reflection and discussion; its concepts and methods are opposed to those used by populism – fake news, insults and mockery based on prejudice, racism, xenophobia, social distinction, etc. In view of this, the cultural sector will always be a place of resistance to this movement, as a driver of critical thought in current societies, reflecting upon the past, our memory, but also upon contemporary problems and future perspectives.
The Nigerian writer, Chimamanda Ngozi Adichie, warned us about the dangers of stereotypes – it’s not that they are entirely false, it’s that they are incomplete. They make one story become the only story, silencing all other voices and experiences a place can contain. Over the years we have been designing cities where invisible communities exist, despite living geographically at its centre. From those places we can hear the stories of those stereotyped visions, stories of detachment, segregation, denial of their right to enjoy the city and its services, stories of racism, violence and of bus-stops in strange and distant places.
Culture can set a sublime example of breaking barriers and challenging stereotypes, shedding a new light on the margins, enabling an essential right; the right to imagination. In a world where these distances seem to be widening, it is also through culture that we can choose to build bridges instead of walls, that we can celebrate difference instead of fearing it, that we can give voice to the margins so they can occupy the centre, that we can discover other centres, and that all of this combined can make us incommensurably richer. This defiant imagination is an invitation for all of us to dream together with a more participated future, fulfilling the promise of culture as a transformative force, an agent of change that inspires and empowers. It is a celebration of the pluralism of voices and perspectives.
I think the rise of far-right movements is a consequence of people’s fears, their existential voids and the belief in easy political solutions for their concerns. In this respect, culture is mostly powerless, because these people, those who believe in easy solutions, don’t read further than the headlines, the soundbites and information that confirms their beliefs. History shows us that, in these cases, the power of culture is very limited. But these moments of crisis also prompt the reinvention of new cultural movements, and these are indeed intent on contestation and resistance.
The culture sector plays an essential role in the construction of collective identities. When we discuss the rise of far-right movements, we must realise that the arts can be powerful tools of ideological dissemination and that there is a clear danger of propagating narratives which bolster some of the values advocated by the far-right.
I believe that the power of the artistic sector (its power to form or deform mentalities) must always be exerted with social and political responsibility.
The far-right has gained momentum and risen over the last years as a reaction to the social conquests achieved during the beginning of this century. It’s a response to a system that was built according to a colonial logic, because colonialism is the basis of capitalism. It emerges as a reaction to the voices that have brought to the table, and rightly so, the debate around the country’s colonial history, and in that respect, culture must play its historical role against authoritarian regimes and ideologies.
A large part of art’s history is one of contestation, and that should be its role, but institutions that have any kind of influence on the works that circulate are also responsible, because they are complicit, since the far-right is ultimately useful to maintain the status quo and the capitalist logic. Even so, I believe that culture can promote an important dialogue on democracy, but it shouldn’t be held hostage to these movements or be afraid of the things they are trying to stop.
/ Tradução por Diogo Freitas Costa