Autor

Bas Grasmayer

Bas Grasmayer é o fundador da MUSIC x, uma newsletter regular sobre inovação na música. É colaborador regular da Water & Music e lidera a comunidade DAO da COLORS.

Bas Grasmayer is the founder of the MUSIC x, a regular newsletter about innovation in music. He’s a regular contributor at Water & Music and leads COLORS’ community DAO.

Tradicionalmente, no mundo das startups, fundadores e investidores tinham dois modelos principais de saída: através da aquisição ou da oferta pública inicial (OPI). Nos últimos anos, começou a emergir um novo modelo de saída, conhecido por ‘saída para a comunidade’.

A saída para a comunidade pode assumir muitas formas, mas implica colocar o futuro de uma empresa nas mãos da sua ‘comunidade’. Definiria aqui comunidade de uma forma ampla: não inclui apenas os utilizadores de um produto, por exemplo, mas também outro tipo de interessados, tais como colaboradores, parceiros, simpatizantes, etc.

Vamos descrever um cenário simples. Uma empresa que tem vindo a construir um produto de economia criadora sempre ofereceu aos seus utilizadores uma forma de participarem no seu trajecto através de activos digitais (tokens) obtidos com base na sua utilização, participação, e por cada mês de subscrição. Os seus utilizadores são entusiastas e a sua equipa está profundamente enraizada na comunidade de utilizadores. Os fundadores querem entregar as chaves à comunidade para, assim, renunciarem para uma nova geração de liderança e tornarem-se participantes mais iguais no ecossistema do seu produto. A comunidade encontra pessoas que acreditam no valor a longo prazo deste produto e cria uma Organização Autónoma Descentralizada (DAO) para reunir fundos e criar um plano para comprar a maioria dos tokens do tesouro da empresa. Uma vez bem-sucedidos, podem distribuir os activos digitais pela comunidade e iniciar uma nova fase da governação comunitária.

Este tipo de modelo funciona especialmente bem para empresas em início de actividade, oferecendo às equipas e aos fundadores uma forma de construir produtos diferente do capital de risco, modalidade tradicional de investimento em startups. Pode também proporcionar uma opção para organizações que, embora tenham um produto que as pessoas adoram, não conseguem angariar fundos (ou vender).

Pode o modelo ‘saída para a comunidade’ oferecer também alternativas para os músicos?

Em primeiro lugar, o que significa para um músico fazer a ‘saída’? Penso que é claro que é através da venda dos direitos do seu próprio catálogo. Nos últimos anos, assistimos a uma série de aquisições de catálogos de alto nível por empresas como a Hipgnosis (que adquiriu os direitos musicais dos catálogos de Justin Timberlake, L.A. Reid, Rick James, entre outros). Para os artistas, estas transacções significam a troca regular de receitas por uma grande soma de dinheiro de uma só vez. Por conseguinte, penso que é uma das melhores analogias para a saída de uma startup.

Então, como é que isso se aproxima de uma saída para a comunidade? Há alguns requisitos:

Uma massa crítica de pessoas que se interessam por música. Isto oferece duas formas de valor: o valor especulativo que trará investidores para a comunidade, e o valor patronal que é o que irá estimular a comunidade a agarrar a gestão do catálogo.

Um conjunto de ferramentas para representar essa estrutura (por exemplo, tokens e uma organização do tipo DAO).

Uma estrutura para a tomada de decisões (i.e., governação) e distribuição de valor.

Não acredito que actualmente os fãs de música estejam todos interessados em participar em bases de fãs que exijam conhecimentos profundos sobre a indústria da música, sobre economia e sobre finanças. Neste contexto, as DAO precisam de ter uma camada de experiência que vá além da ótica do negócio. Essa camada deve esforçar-se por tornar a experiência dos fãs autónoma, de modo que contribuir para a narrativa em torno da música de um artista seja como participar em memes. Para exemplos anteriores a toda esta terminologia da web3, podemos ver o que as bases de fãs dos Grateful Dead, dos Phish e dos Insane Clown Posse fizeram.

O único bom exemplo que conheço de um artista que utilizou as ferramentas da web3 para fazer a saída para a comunidade é Jonathan Mann. Mann tem vindo a fazer uma canção por dia durante quase cinco mil dias consecutivos. Ele decidiu cunhar todas as suas canções como NFT e transferir os direitos das canções para uma DAO, a qual é controlada pelos compradores da canção NFT, ou nas suas palavras: “SongADAO é uma cooperativa legal que detém os direitos de autor de todas as canções da colecção Song A Day. Isso significa que quem é membro tem os direitos de cada canção”.

O modelo de Mann é interessante, porque desde que vendeu todo o seu catálogo como NFT e transferiu os direitos para a DAO, todos os dias, ao lançar uma nova canção, sai para a comunidade. Esta é leiloada e um novo membro da DAO pode ser admitido a bordo. Para reduzir as barreiras económicas à participação, a comunidade também experimentou integrar pessoas na DAO que fizessem algo criativo todos os dias, durante um mês.

Neste momento, este modelo ainda representa uma fasquia elevada para a maioria dos artistas e fãs. Contudo, ela é significativamente mais baixa do que foi para Mann, que teve de descobrir o modelo a partir do zero. O que também está a baixar a fasquia é o facto de novas ferramentas que ajudam os artistas a criar comunidades tokenizadas estarem constantemente a ser lançadas (neste momento, parece haver uma nova todas as semanas).

Isto dá aos artistas — e fãs — a opção de irem além das relações via streaming, via redes sociais, ou via assinaturas mensais, através de ferramentas como a Patreon, em direcção a modelos que podem envolver uma grande variedade de fãs: de especialistas da indústria a ouvintes ocasionais de música, de pessoas que estão verdadeiramente empenhadas a pessoas que apenas querem passar o tempo. Conto que, por agora, a saída para a comunidade continue a ser um modelo raro para os artistas. No entanto, penso que à medida que aparecerem mais exemplos ao longo dos próximos anos, mais artistas se aventurarão e criarão modelos inteiramente inovadores em conjunto com os seus fãs e seguidores.

English Version

What would 'Exit to Community' look like for artists?

Startups have traditionally had two main ways for founders and investors to ‘exit’: an acquisition or an IPO. Over the past years, a new model has started to emerge which is referred to as ‘exit to community’.

Exiting to community can take many forms, but it involves putting the future of a company into the hands of its ‘community’. I’d define community broadly here: not just the users of a product, for example, but also other types of stakeholders such as team, partners, supporters, etc.

Let’s describe a simple scenario. A company that’s been building a creator economy product has always given its users a way to participate in its roadmap through tokens earned based on their usage, participation, and for each month they’re subscribed. Its users are passionate and its team is deeply embedded in the user community. The founders want to hand the keys over to the community, so they can step down for a new generation of leadership and become more equal participants in the ecosystem of their product. The community finds people who believe in the long-term value of this product and put together a Decentralized Autonomous Organization (DAO) to gather funds and create a plan to buy the majority of tokens from the company’s treasury. Once successful, they can distribute the tokens to the community and start a new phase in the journey of community governance.

This type of model works especially well for earlier-stage organisations and gives teams & founders a different way to build products than the traditional venture-funded startup model. It can also provide an option for organisations that have a product people love, but fail to raise funds (or sell).

Can the ‘exit to community’-model also provide alternatives for musicians?

First, what does it mean for a musician to ‘exit’? I think the clearest form of this is by selling the rights to one’s catalogue. We’ve seen a number of high profile catalogue purchases by organisations such as Hipgnosis in recent years (e.g. Justin Timberlake, L.A. Reid, Rick James, more). For the artists, these transactions mean swapping recurring revenue for a large sum of money at once. Therefore I think it’s one of the best analogies for a startup’s exit.

So what does that look like as an exit to community? There are a few required components:

A critical mass of people that care about the music. This gives it two forms of value: speculative value that will bring investors into the community, and patron value which is what will energize the community to take stewardship of the catalogue.

A framework for decision-making (ie. governance) and value distribution.

Tooling to represent that framework (e.g. tokens and a DAO-like organisation).

I don’t believe, at present, music fans are all that interested in participating in fanbases which require a thorough understanding of the music business, economics, and finance to participate fully. This means that the DAO needs to have an experience-layer that is about more than just the business. That layer should strive to make the fan experience ‘headless’, so that contributing to the narrative around an artist’s music is like participating in memes. For examples that predate all this web3-terminology, you can look at what the fanbases of the Grateful Dead, Phish, and Insane Clown Posse have created.

The only good example of an artist exiting to community through web3-tools that I know of is Jonathan Mann. Mann has been making one song a day for nearly five thousand consecutive days. He decided to mint all his songs as NFTs and move the rights of the songs into a DAO that is governed by the buyers of the song NFTs, or in his words: “SongADAO is a legal co-op that owns the copyright to every Song A Day song. That means that if you’re a member, you CO-OWN the rights to every single song.”

Mann’s model is interesting, because since selling his whole catalogue as NFTs and moving the rights into the DAO, he’s been exiting to community every day when he releases a new song. It gets auctioned and a new DAO member can be onboarded. To lower the economic barriers to participate, the community also experimented with onboarding people to the DAO who make one creative thing every day for a month.

At the moment, the barrier to use the above as a template is still high for most artists & fans. However, that barrier is significantly lower than it was for Mann who had to figure it out from scratch. What’s also lowering the barrier is that new tools to help artists build tokenized communities are launching all the time (feels like there’s a new one every week, at the moment).

This gives artists, and fans, the option to move beyond the streaming relation, the social media relation, or the monthly subscriber relation through tools like Patreon, towards models that can engage a large variety of fans: from industry experts to casual music listeners, from people who want to lean in heavily to people who just want to hang out. I expect exiting to community to remain rare for artists for now, but as more examples emerge over the next years, more artists will take the plunge and innovate entirely models with their fans and stakeholders.

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