[ENG] Ricardo Ramos Gonçalves (Castelo Branco, 1995). Journalist and editor. He holds a degree in Communication Sciences from Universidade Nova de Lisboa and a master's degree in Modern and Contemporary History from ISCTE. He began his professional career in 2015 as a journalist, worked for the cultural communication platform Gerador, was an editor in the culture section of Novo Semanário and currently writes for Time Out and Observador. He has moderated conferences on culture and artistic creation in Portugal. He is the editor of PARTE Book, an editorial project developed as part of PARTE Portugal Art Encounters.
Entre as razões apontadas para a fraca participação estão a falta de tempo e o preço dos eventos e espetáculos, bem como a falta de interesse. Os coordenadores do estudo apresentam uma curva histórica que assume uma premissa explicativa: “Historicamente, o sector cultural não foi um pilar central no pós-25 de Abril, depois do longo período de ditadura, pelo que a democratização cultural tem ainda um longo caminho a percorrer”, sustentam.
Numa reflexão sobre o papel dos programadores e dos críticos – e na visibilidade que os mesmos trazem para o domínio da cultura –, o diagnóstico para o que falta fazer também não é alheio a este cenário e contexto histórico.
Nos media e nas redes sociais, a crítica parece ter um valor assumido, muitas vezes estereotipado e remetido a um certo elitismo. A sua verdadeira função parece estar, também ela, mediada por lógicas de mercado, fazendo com que seja muitas vezes vista como desconectada da realidade, incompleta e, sobretudo, limitada por não conseguir equilibrar-se entre o que é considerado mainstream e o que surge numa esfera menos visível da produção artística.
Que papel desempenham os programadores e os críticos na atualidade? De que forma é que o seu trabalho pode manter um equilíbrio entre o que é mais conhecido e o que é menos visível? Como é que os mesmos – programadores e críticos – são agentes ativos e relevantes na mediação com os diferentes tipos de públicos? São várias as questões que se ligam quando falamos do que está em falta na programação ou na crítica cultural. Certo é que estas mesmas questões são, de igual forma, um princípio de diagnóstico que é hoje transversal às diferentes áreas de expressão artística. Por onde se começa então?
No arranque da edição de 2023 do MIL, a primeira conversa, com o título Até Quão (In)Visível É a Cultura No Discurso Público?, já ensaiava conclusões importantes. Desde logo, identificou-se o problema crónico de desconexão entre os operadores do sector cultural e os seus intervenientes – num sentido mais abrangente onde se juntam artistas e público.
Não há imparcialidade, nem tem de haver, destacaram os oradores presentes, mas é importante que os operadores se mantenham atualizados e capazes de acompanhar algumas das discussões que hoje se revelam fundamentais, realçam. O mesmo princípio para os críticos – mas lá chegaremos.
Como programar hoje (para todos)?
Numa das conversas mais participadas da edição de 2023 do MIL, reuniram-se à mesa mais de 15 programadores culturais, de diferentes instituições e espaços culturais, nacionais e internacionais. O que são, o que fazem e como escolhem o que programar parecem ser, à partida, interrogações pertinentes sobre um ofício que desperta curiosidade. Como é que se descobre nova música e novos artistas foi o mote de arranque, sendo que as respostas pairam, invariavelmente, nos mesmos modos de programar. O streaming, a pesquisa (estruturalmente académica) e os interesses partilhados entre pares e diferentes espaços culturais revelam muito do modelo de trabalho instituído. “Entre perder ou fugir do algoritmo das plataformas de streaming”, como sugere um dos oradores, nem sempre existe uma opção coerente no que toca às práticas de programação. Quer pela forma de empoderamento, quer pelo privilégio associado à função de um programador, o fator humano é influência decisiva, conclui-se.
Voltamos ao princípio base, onde existem, no entanto, reflexões que atualmente são cada vez mais pertinentes. No caso português, note-se, o contexto pós-colonial, mas também a visibilidade em torno das chamadas periferias deu ênfase a muitos géneros musicais que, há pouco mais de uma década, ainda poucas chances encontravam de serem programados em salas de concertos de muitas cidades portuguesas. Algumas das novas tendências artísticas deram destaque a outras formas de gerir espaços e de programar. No caso de Lisboa, a profusão de espaços independentes, muitos deles remetidos para zonas menos gentrificadas da capital, revelaram uma cena rave pujante – onde se identificam espaços como o KØMPLEX Lisbon e o Planeta Manas, mas também o afrobeat, hip hop e a música latino-americana –, como acontece nas festas dinamizadas pelo projeto Dengo Club ou nas Noites Príncipe, que surgiram como verdadeiras plataformas que vieram criar comunidades em torno destes géneros musicais.
De regresso aos programadores, a mutação constante do cenário artístico é tida como um desafio que implica uma atualização necessária e permanente dos próprios. “Devem programar-se não os artistas de que se gostam, mas sim os artistas que se respeitam”, diz Pedro Azevedo, da sala lisboeta Musicbox. Por outro lado, o programador tem o dever de dar palco mesmo aos artistas que possam não vir a ter grande sucesso, e de conseguir refletir as tendências que, passo a passo, ganham clivagens notórias. Como encontrar um verdadeiro equilíbrio? É preciso arriscar e tomar o pulso às novas tendências para se provocarem encontros e diálogos inusitados. Afinal de contas, é isso que leva à formação de públicos – chavão hoje tão utilizado pelas diferentes instituições culturais quanto necessário.
Numa entrevista de 2019 ao Observador, o programador Pedro Santos sintetizava esse mesmo papel: “uma parte entusiasmante deste trabalho é provocar novas situações. Isso é sempre muito interessante. A programação, para mim, tem sempre um bocadinho de curadoria. Essa parte é sempre muito estimulante. Os programadores estão sempre muito dentro de toda a mecânica e é natural que muitas vezes nos vejamos completamente dentro dela. É nesse momento que aparece o lado de curadoria que nos leva a ter ideias, sugestões e a ter uma certa clarividência que é benéfica para o desenvolvimento de um projeto”. Mas é preciso, igualmente, sair da bolha dos espaços mais institucionalizados. Para Liv Wynter, performer trans e da classe trabalhadora que organiza na Grã-Bretanha a How To Catch A Pig, uma noite artística focada na performatividade de artistas queer e trans, “é essencial dar espaço a estes corpos, que estão sub-representados nas programações. É uma forma radical de lhes dar o conforto de terem um espaço e a oportunidade de fazerem o seu trabalho artístico”, salienta.
Márcio Laranjeira, uma das caras da Lovers & Lollypops, sobre esta mesma experiência, deixa pistas importantes sobre de que forma é que os programadores podem atualizar-se, sem deixarem de ter uma abordagem inovadora. “Quando comecei a programar com algumas pessoas, todos homens cisgénero, chegámos à conclusão de que as escolhas recaíam no mesmo padrão de bandas ou artistas brancos, masculinos e cisgénero. 15 anos volvidos, percebemos que atualmente isso seria, de alguma forma, um trabalho incompleto, porque é necessário abrirmos o nosso espectro e expandirmos horizontes”, sintetiza. Muitas vezes, diga-se, esse mesmo tipo de desafio confronta-se com a necessidade de não deixar cair o lado autocrítico.
Por seu lado, Saint Caboclo, organizador da Dengo Club, salientava, em entrevista, a falta de empenhamento crítico dos programadores: “acredito que o crescimento da Dengo Club tem que ver com a falta de esforço das discotecas, que estão presas na mesma coisa há anos e não conseguem pensar no futuro. Se uma pessoa sozinha consegue criar algo tão simples e que funciona, isso é a prova de que os donos de bares e discotecas LGBTQ+ não estão sequer tentando melhorar os seus serviços”.
“Quando se faz programação ao longo de muito tempo, torna-se necessário haver um questionamento”, explica Pedro Fradique, um dos programadores do LuxFrágil. O mesmo princípio aplica-se à crítica, vista como necessária. “É sinónimo do bom funcionamento da democracia, mas que urge ser repensada para que volte a ter esse papel”, salienta Miguel Bica, cofundador da plataforma de comunicação cultural Gerador.
A crítica que nos guia
Num tempo em que a maior evolução cultural e artística é precisamente a diversidade, tanto o lugar do programador quanto o do crítico são debatidos. Por certo, ocupam o seu lugar – cada vez mais necessário –, numa era em que são poucos os filtros que resistem. Mas é esse mesmo aspeto que agiganta o desafio. Dar voz às novas gerações, conceder espaço à crítica como gesto também ele individual, ainda que finalmente coletivo.
Numa análise atual aos principais meios de comunicação nacionais e europeus – sobretudo jornais –, é notório como a crítica se encontra muitas vezes relegada a um papel minoritário. No campo do jornalismo cultural, a crítica se tornou um ato enunciativo agenciador da dimensão estética das diversas produções artísticas. O viés ideológico e subjetivo de cada jornalista concorre para formar gostos e preferências, mesmo com todas as ressalvas dado o caráter elitista e divulgador de alguns textos”, escreve Affonso Miranda Neto na sua tese de doutoramento Eram deuses os guitarristas? Heróis e mitos no imaginário da cultura massiva (2017).
Em todo o caso, os críticos não estão imunes a um certo elitismo. Neste debate, identifica-se também a lógica comercial de muitos meios de comunicação, muitas vezes criando um elo errado entre as suas secções de cultura e a publicidade. São, como aponta a investigadora Maarit Jaakkola, “discussões que destacaram a crise da tradição estética dentro do jornalismo cultural, proclamando um declínio na quantidade e significância de crítica séria, refletindo em primeiro lugar um aumento progressivo do entretenimento e de aspetos comerciais”. Pedro João Santos, jornalista e crítico de música, acredita que este debate sobre a crítica começa precisamente no jornalismo cultural e nas crises que este atravessa. “É ver o seu espaço e a parcela de orçamento mirrar dramaticamente. [São secções] que vivem o colapso dos modelos de financiamento dos meios de comunicação e a precariedade, sendo que vemos esse jornalismo a deslocar-se para meios online que são importantes, mas que não têm capacidade de remunerar quem neles escreve”.
De regresso à conversa de abertura do MIL, salienta-se a falta de crítica nos media como um dos fatores que impossibilitam a sua visibilidade. Por outro lado, a crítica parece hoje ressurgir de uma forma mais evidente e direta nas redes sociais, nomeadamente no TikTok. Os chamados booktokers são dados como exemplos de um fenómeno que só o futuro poderá vir a explicar, sugere Miguel Bica, ainda que este tipo de fenómenos não substitua a crítica convencional. Pelo contrário, explica o produtor. É apenas uma evidência de que há diversas formas de continuar esse trabalho, não excluindo a sua necessidade: “Precisamos da crítica. É falso dizer que o espaço da crítica acabou porque o público não queria saber. O público quer saber, mas quando estamos reféns dos mesmos críticos durante vinte anos também existe um desgaste. O que se deve encontrar na crítica é uma referência de gosto, mas as pessoas têm esse aspeto disperso. A verdade é que temos tanta oferta em tantos sítios que precisamos de referências – tal qual quando perguntamos aos amigos – para podermos fazer escolhas.”
Mas há um outro aspeto pendente, destaca Pedro João Santos. “Sobre este tópico, Portugal vive outro drama: a convivência com artistas, assessores, programadores e diretores é muito mais estreita e familiar e potencialmente promíscua; isso é uma ameaça direta ao pensamento independente.” O que nos leva à quase inexistência de crítica negativa. Há dogmas e erros de julgamento, mas a crítica negativa comporta sempre uma carga de choque que é tanto maior quanto mais claustrofóbico for o meio. “O escriba que der duas estrelas a um álbum português, muito provavelmente vai cruzar-se com o músico dois dias depois. E mesmo que não se encontrem, o eco é muito maior nos bastidores. É este grupo muito apertado que rege o acesso aos artistas que estão cada vez mais protegidos, que vêm com uma persona pré-embalada, muito higienizada. Os jornalistas são quase convidados a empinar os comunicados de imprensa e a regurgitá-los. Se um jornal vai contra essa narrativa muito cuidadosamente formulada, arrisca-se a não voltar a ter acesso àquele artista ou a outro do mesmo círculo.”
Mas o que é a crítica senão um exercício “idealmente livre de constrangimentos?”, questiona-se Pedro João Santos. “Já tive um camarada que foi convidado a subir a nota a um disco para não agitar as águas. Percebo esta relutância porque, do ponto de vista editorial, é complicado sobreviver. Mas a crítica amordaçada não é crítica, é uma aberração”, conclui o jornalista. É preciso resistir às pressões, mas esse trabalho começa muitas vezes nos editores e nas próprias direções dos órgãos de comunicação social. Não ceder, para que a crítica possa existir.
Se o programador precisa de se questionar, já o crítico precisa de ter o seu devido espaço e ser defendido por quem não queira simplesmente ceder à pressão de ditar elogios perante determinado objeto artístico. São também estes os pontos nevrálgicos para que não haja uma programação ou crítica em falta. Como dizia Álvaro Lapa, artista português falecido em 2006, “temos o trilho, falta-nos o mapa”. É seguir o trilho, portanto, e chegar por fim a um panorama que é feito por todos e para todos.
English Version
Among the reasons pointed for this weak participation are the lack of time and the prices of events and shows, as well as a lack of interest. The survey’s coordinators present a historical curve based on the following explanatory premise; “Historically, the cultural sector has not been a central pillar of the post-revolutionary democratic regime in Portugal, following the long dictatorial period, and so cultural democratisation still has a long way to go.”
In a reflection upon the role of programmers and critics – and the visibility they mobilise for the cultural sector – the recommendation as to what remains to be done, is equally mindful of this historical context:
The value assigned to criticism by the media and social networks often seems to be limited by stereotypes and relegated to some form of elitism. Its real function seems to be mediated by the logic of the market, often making it appear disconnected from reality, incomplete and, above all, limited by its inability to strike a balance between all that is regarded as mainstream and all that emerges within a less visible sphere of artistic production.
What role do cultural programmers and critics play today? How can their work reach a balance between the more popular and the less visible? How can, both programmers and critics, become active and relevant agents in the mediation between different kinds of audiences? Thinking about everything that is lacking in cultural programming and criticism, gives rise to a host of interconnected issues. What is certain is that these same issues provide an initial insight into a common condition across the different fields of artistic expression. Where should we begin then? With the opening of MIL’s 2023 convention. Its first featured debate, entitled How (In)visible is Culture in Public Discourse?, advanced some relevant conclusions. To begin with, it identified the chronical problem of disconnection between the operators of the cultural sector and its participants – in the broadest sense, including artists and audiences.
There is no impartiality, nor need there be, as the speakers in the debate emphasised, underlining that it’s nevertheless important that operators remain up-to-date and capable of keeping pace with some of the discussions that have become relevant today. The same principle goes for critics – but we’ll get to that later.
How to programme today (for everyone)?
One of the most participated debates of MIL’s 2023 convention was a roundtable comprising 15 national and international cultural programmers, from different institutions and cultural spaces. How do they describe themselves, what they do, and how they decide what to programme? These seem to be relevant questions about a craft that arouses curiosity. The question, “how does one discover new music and new artists?” sets the tone for a conversation in which the answers invariably revolved around the same programming methodologies: Streaming, research (structurally academic) and shared interests among peers and cultural spaces, reveal a lot about the instituted working method. “Between missing-out and avoiding the algorithm of streaming platforms”, as one of the speakers put it, there isn’t always a coherent choice when it comes to programming practices. Whether due to the kind of empowerment, or the privilege associated with the role of the programmer, the human factor is a determining influence, they conclude.
We go back to the basic principle where, nevertheless, we find reflections that are becoming increasingly relevant today. In the Portuguese case, it should be noted, the post-colonial context, as well as the visibility given to the so-called peripheries, has spotlighted many different musical genres which, less than a decade ago, still had little chance of being programmed in major music venues in many Portuguese cities. Some of the new artistic trends highlighted other methods of management and programming.
In Lisbon, for instance, the profusion of independent spaces, many of which found their place in the capital’s ungentrified areas, revealed a thriving rave scene – with spaces such as KØMPLEX Lisbon and Planeta Manas, but also spaces playing afrobeat, hip hop and Latin-American music -, as in the case of the events organised by the projects Dengo Club or Noites Principe, which provided real platforms for the creation of communities around these music genres.
Back to cultural programmers, the constant mutation of the artistic scene is viewed as a challenge, implying their need to keep constantly updated. “The artists we should book are not those we like, but those we respect”, says Pedro Azevedo, from Lisbon’s Musicbox. On the other hand, the programmer has the duty to spotlight on artists who show potential and to reflect the trends that gradually gain ground. How can this balance be managed? They have to take risks and keep their fingers on the pulse of the new trends in order to provoke unexpected encounters and dialogues. Ultimately, that’s what leads to creating audiences – a current buzzword which is as widely used by different cultural institutions as it is necessary.
In a 2019 interview for Observador, the programmer Pedro Santos summed up this specific role: “An exciting part of this job is to provoke new situations. That’s always very interesting. For me, the programmer must always be something of a curator himself. And that side is always very stimulating. Programmers are always deeply engrossed in the whole process and it’s natural that we often find ourselves completely immersed in it. That’s when the curating facet emerges and helps us to come up with new ideas and suggestions, and to acquire a certain perceptiveness that is beneficial to develop a project.“ But it is equally necessary to step out of the bubble of the more institutionalised spaces. For Liv Wynter, a working-class trans performer and UK organiser of How to Catch a Pig, an artistic evening focused on queer and trans artist performers, “it’s essential to provide a space for these bodies, which are underrepresented in the programming scene”, stressing that “it’s a radical way of affording them the comfort of having a space and a chance to present their artistic work”.
Regarding this precise experience, Márcio Laranjeira, one of the faces behind Lovers & Lollypops, gives some important clues about how programmers can keep updated without relinquishing an innovative approach. “When I started programming with a group of people, all of them cisgender men, we came to the conclusion that the choices always followed the same pattern of white cisgender male bands or artists. 15 years later, we realise that nowadays, somehow that would be an incomplete job, because we need to open up our spectrum and broaden our horizons”, he concludes.
We should note that the same kind of challenge is often met with the need to maintain the ability for self-criticism. On his part, Saint Caboclo, organiser of the Dengo Club, pointed out programmers’ lack of critical engagement: “I believe the growth of Dengo Club results from the lack of effort displayed by clubs, which have been stuck doing the same things for years and are unable to think ahead. If one person alone can create something simple and viable, it proves that the owners of LGTBQI+ bars and discos are not even trying to improve the services they provide.”
Pedro Fradique, one of the programmers at LuxFrágil explains that, “when one has been programming for a long time, there has to come a time for questioning”. The same principle applies to criticism, viewed as necessary. Miguel Bica, cofounder of the communication platform Gerador, underlines that criticism “is a synonym for a functioning democracy, but urgently needing to be reformulated if it’s to recover its essential role”, he stresses.
The criticism that guides us
At a time when the most significant artistic and cultural development has been diversity, the role of programmers and critics alike need to be discussed. Surely, their role – an increasingly necessary one – must find a place within a context that does away with most filters. But that is exactly what makes the challenge so demanding: to give voice to new generations, to make more space for criticism as an individual gesture, albeit ultimately a collective enterprise.
A current analysis of the main national and European communication media– especially print media – clearly reveals that criticism is frequently relegated to a minor role. “In the field of cultural journalism, criticism has become an enunciative act conveying the aesthetic dimension of different artistic productions. Every journalist’s ideological and subjective bias contributes to form tastes and preferences, all provisos considered, given the elitist and publicising nature of some texts”, writes Affonso Miranda Neto in his PhD thesis Were guitarists gods? Heroes and myths in the imaginary of massive culture (2017).
In any case critics are not immune to a certain elitism. This debate also identified the commercial logic behind many media outlets, often creating an equivocal link between its culture and publicity sections. As researcher Maarit Jaakkola points out, “these discussions highlighted the crisis in the aesthetic tradition within cultural journalism, announcing a decline in the quantity and relevance of serious criticism, which reflects above all the progressive growth of entertainment and commercial concerns”. Pedro João Santos, music journalist and critic, believes that the debate around criticism has to start precisely with cultural journalism and the crises it is undergoing. “We only have to see how its share of space and budget are shrinking dramatically. [These sections] are experiencing the collapse of the media’s funding models and the spread of precariousness, at the same time that we see journalism migrating to online media, which are important, but don’t have the same capacity to pay collaborators.”
Back to the opening debate at the MIL convention, the lack of criticism in the media is also pointed as one of the factors hampering its visibility. Conversely, today criticism seems to make a more clear and direct reappearance in the social media, namely in TikTok. The so-called bootokers are presented as examples of a phenomenon that only the future will explain, as Miguel Bica suggests, even though these kinds of phenomena are not a substitute for conventional journalism. On the contrary, explains this producer. It’s just proof that there are different ways to continue this work, albeit not excluding its importance. “We need criticism. It’s false to claim that criticism has lost its place because the public doesn’t care about it. The public cares, but when we are held hostage by the same critics for twenty years, there is also some strain. What people should find in criticism is a reference for taste, but people have become very dispersed in that respect. The truth is that there is so much offer and so many different spaces that we need references – just as when we ask our friends – so we can make our choices.”
But, according to Pedro João Santos, there is yet another pending aspect. “Regarding this topic, Portugal is experiencing another dilemma: the coexistence of artists, advisors, programmers and directors is much tighter and familiar and potentially promiscuous; that is a direct threat to independent thought.” Which leads us to the near inexistence of negative criticism. There are dogmas and errors of judgement, but negative criticism always carries with it an element of shock that is all the greater the more claustrophobic the setting. “The writer who wants to rate a Portuguese album with two stars will run into the musician a couple of days later. And even if they don’t come across each other, its echo backstage is much louder. And our access to artists who are increasingly protected, is conditioned by this kind of very tight circle, presenting us with a pre-packaged, sanitised persona. Journalists are almost invited to memorise press releases and regurgitate them. If a newspaper goes against this carefully crafted narrative, it risks losing access to that artist or to others within the same circle.”
But what is criticism if not an exercise “ideally free of constraints?”, asks Pedro João Santos. “I had a colleague who was invited to give a higher rating to a record, so as not to rock the boat. I understand this reluctance, because from an editorial point of view, its hard to survive. But a gagged criticism isn’t criticism at all, it’s an aberration”, the journalist concludes. We need to resist pressures but this kind of work often begins at the editorial level and in the direction boards of media outlets themselves. Don’t compromise, so criticism can exist.
While programmers need to question themselves, critics need to be defended and given their proper space by those who don’t want simply to cave in to the pressure of dictating praise for a given art object. These are also the key points to prevent the shortage of programming and criticism. As the Portuguese artist Álvaro Lapa said, “we have the trail, we are only missing the map”. Let us follow the trail then, and finally arrive at a place made by all and for all.
/ Tradução por Diogo Freitas Costa