A POLÍTICA CULTURAL EM FALTA
O quarto número da revista MIL experimenta um novo método. Anteriormente lançada no primeiro dia do festival, este editorial partiu do programa da convenção do MIL 2023, das suas temáticas e participantes. Uma equipa de quatro jornalistas assistiu às mesas-redondas e palestras, bebendo das partilhas que procuraram responder às questões-título do nosso programa, agora aprofundadas nas páginas que lemos. Não por coincidência, é o número com mais interrogações no seu índice.
Na quarta edição, refletimos sobre a programação e a crítica em falta e sondamos a capacidade do sector adotar uma abordagem decolonial. De compromisso assumido com o conceito de democracia cultural, reclamamos a pluralidade cultural, para repensar a participação e redefinir políticas culturais. Olha-se para a noite como herança cultural e como lugar privilegiado para a prática de cuidado, agitam-se as estruturas e os fantasmas da tradição, tateiam-se as mudanças no tecido cultural de Lisboa e do Porto, fruto dos processos desregulados de gentrificação e turistificação, ainda incapazes de pôr um ponto final à questão que se impõe: é o fim de uma era?
Continuamos a questionar como será o futuro dos artistas ao vivo, no digital e perante a ameaça da inteligência artificial. Acima de tudo, há sequer futuro na música para uma plena democracia cultural? A questão é levantada pelo músico e educador Nathan Holder, numa entrevista que não nos deixa esquecer que a educação está no princípio de tudo.
No final, qual é a responsabilidade do sector cultural perante a ascensão das extremas-direitas? A pergunta que encerra a publicação gerou um desconforto que prova a sua urgência. Façamo-la até que não seja mais necessária.
THE MISSING CULTURAL POLITICS
The fourth issue of MIL magazine takes a new approach. Unlike previous years, this year’s editorial is centered around the actual MIL 2023 convention, including its themes and participants. A group of four journalists attended the roundtables and lectures, drawing on the discussions that sought to answer the questions that headlined our programme, now explored in depth in the following pages. It’s no coincidence that this issue has the highest number of questions in its index.
We reflect on the lack of programming and criticism, and probe the sector’s potential to embrace a decolonial approach. With a commitment to cultural democracy, we urge for cultural pluralism to rethink participation and redefine cultural policies. We look at the night as cultural heritage and as a privileged place for the practice of care, we shake up the structures and ghosts of tradition, and while we explore the transformations in the cultural landscape of Lisbon and Porto caused by gentrification and touristification, we still remain uncertain: is this the end of an era?
We continue to wonder what the future will be for live artists in the digital age and in the presence of artificial intelligence. Above all, is there even a future in music for a full cultural democracy? The question is raised by musician and educator Nathan Holder, in an interview that reminds us that education is the foundation of everything.
Finally, what is the responsibility of the cultural sector as the extreme right gains ground? The question that closes this issue has caused a certain discomfort that proves its urgency. Let’s keep asking it until it’s no longer necessary.