Uma editora-promotora que não existiria sem a sua comunidade
A label-promoter that wouldn’t exist without its community
O que é? What is it?
PT_ A MERA é uma editora porque lança música e uma promotora porque apresenta essas mesmas edições ao público. Criada a partir do circuito cultural independente do Porto por João Soares, Daniel Assunção e Nelson Duarte, a ideia original da MERA passa por “albergar o material de tudo” o que os envolve e “de toda a gente” à sua volta. No fundo, “mostrar o que se faz aqui na zona”, diz-nos João Soares.
ENG_ MERA is a label because it releases music and a promoter because it presents those same editions to the public. Created by João Soares, Daniel Assunção and Nelson Duarte from the independent cultural circuit of Oporto, the original idea of MERA is to “record the material of everything and everyone” that surrounds them. Basically, “to show what is done in the area”, João Soares tells us.
Como surgiu? How did it come up?
PT_Germinada no seio da comunidade artística do Bonfim, a origem da MERA está nas pessoas que a rodeiam. A “semente” que plantou este projecto, nota João Soares, foi o Ócio, colectivo de artistas fundado em 2013 do qual João, Daniel e Nelson fazem parte. À semelhança do estúdio de animação e tecnologia interactiva Girina e da revista de artes Dose (criada por Maria Von Hafe, Margarida Oliveira, Cristiana Oliveira e Mariana Rebola), a MERA foi um dos desdobramentos do Ócio e das várias linguagens que nesse colectivo se encontram. Começou por ser apenas um canal de partilha, mas rapidamente vieram as primeiras edições de música de amigos mais próximos, sobretudo dentro da música electrónica, seguindo-se as colaborações com espaços como o clube Passos Manuel para mostrar esses trabalhos.
ENG_Created within the artistic community of Bonfim, the origin of MERA lies in the people that surround it. The “seed” that planted this project, notes João Soares, was Ócio, a collective of artists founded in 2013, of which João, Daniel and Nelson are members. Like animation studio Girina and arts magazine Dose (created by Maria Von Hafe, Margarida Oliveira, Cristiana Oliveira and Mariana Rebola), MERA is an offspring of Ócio and the various languages found in this collective. It started out as just a channel for sharing, but soon came the first editions of music from close friends, mostly within electronic music, followed by collaborations with venues like Passos Manuel club to showcase those same works.
Qual é o papel da comunidade para a MERA? What is the role of community for MERA?
PT_ Tal como o Ócio, a MERA é o resultado directo da efervescência da comunidade artística do Bonfim, um dos principais pontos de encontro da força criativa que alimenta a cidade. Lá foram acontecendo as ligações com artistas, públicos, moradores e outros colectivos, como os berru ou a Lovers & Lollypops, e este espírito comunitário e de entreajuda acabou por enraizar-se no ethos da editora, “como se do destino se tratasse”. João Soares sublinha que trabalhar em comunidade foi algo que lhes foi permitido desde o início, já que tudo se dá “de forma muito natural, simples e honesta”: seja a partir dos encontros casuais no Asa de Mosca, histórico café portuense situado em frente ao espaço de trabalho e galeria do Ócio, seja através da dinamização desse mesmo espaço. Mas a pontes criadas não se ficam pelo Porto – os tentáculos da MERA estendem-se a Amesterdão, Berlim e a Aachen, onde vão surgindo intercâmbios, por agora online, com artistas e colectivos semelhantes.
Durante os confinamentos, procuraram replicar as dinâmicas presenciais no espaço virtual e o trabalho deu-se de forma igualmente orgânica. A facilidade com que escolheram e envolveram artistas e editoras nas duas edições da Domestic Rave Transmission, um evento livestream com 24 horas de duração, foi, para João, “mais uma prova de que estas comunidades existem e que é importante preservá-las”.
ENG_Like Ócio, MERA results from the artistic community burst of Bonfim, one of the main meeting points of the creative force that drives the city. It was there that connections with artists, audiences, residents and other collectives, such as Berru or Lovers & Lollypops, took place, and this community spirit and mutual help became rooted in the label’s ethos, “as if it were destiny”. João Soares underlines that working together was something that they could do from the beginning, since everything happens “in a very natural and honest way”: either through casual meetings at Asa de Mosca, the historic café in Oporto located opposite Ócio’s work space and gallery, or through the work developed here. But the bridges created are not limited to Porto – MERA’s tentacles extend to Amsterdam, Berlin and Aachen, where online exchanges are emerging with similar artists and collectives.
During the confinements, they tried to replicate the in-person dynamics in the virtual space and again the work took place in an organic way. The ease with which they chose and involved artists and publishers in the two editions of the Domestic Rave Transmission, a 24-hour livestream event, was, as João puts it, “further proof that these communities exist and that it is important to preserve them”.
Qual é a importância de mostrar ao vivo o trabalho dos artistas da MERA? How important is it for MERA artists to showcase their work live?
PT_Para a MERA, a edição é tão importante como a apresentação ao vivo. Importa-lhes obter “outra resposta que não seja só gráfica ou de monetização, que te diz apenas quantas vendas fizeste ou quantas pessoas ouviram”, observa João. Ao vivo, encontram uma “resposta muito pessoal e honesta na cara e no corpo das pessoas”, interacção que incentiva os artistas a continuar o seu trabalho. Investindo em criar um ambiente audiovisual e performativo adequados a cada espectáculo, a MERA procura estimular um elo de ligação entre o espectador e o artista, algo que o livestream nunca vai conseguir substituir.
ENG_For MERA, the editing is just as important as the live performance. It matters to them to get “another response that isn’t just graphic or monetisation, that just tells you how many sales you’ve made or how many people have listened”, notes João. Live, they find a “very personal and honest response in people’s faces and bodies”, an interaction that encourages the artists to continue their work. Investing in creating an audiovisual and performative environment appropriated to each show, MERA seeks to stimulate a link between the spectator and the artist, something that the livestream will never be able to replace.